A partir de um momento, meu filho começou a me desobedecer. Falo, falo, falo com ele que não pode fazer isto, mas ele continua, finge que nem ouviu. Passei um período em que meu filho não me obedecia muito, mas aos poucos consegui, e agora ele obedece bastante. O meu filho está cada vez mais desobediente, só piora com o passar do tempo.
Estes são desabafos de muitos pais. No início é tudo tranquilo, e de repente começa a acontecer os primeiros casos de desobediência, e quando vê, já está em um nível em que os pais perdem o controle sobre a situação. E em muitos casos os pais relatam que quanto mais chamam a atenção mais eles fazem, porém se não chamam a atenção eles não param de fazer e ainda fazem outras coisas piores.
Exemplos:
Criança sobe em cima do braço do sofá e os pais dizem para ele descer, então ele continua e começa a rir para os pais, então os pais a tiram de cima do braço do sofá e ele começa a gritar e chorar dizendo me solta, e batendo os braços e as pernas, então os pais a colocam no chão e dizem não sobe mais lá, porém, é só os pais virarem e a criança sobe e começa tudo de novo.
A criança sobe no braço do sofá e os pais a ignoram, finge que não estão nem ai, então a criança começa a andar para trás e para frente no braço do sofá, os pais continuam fingindo que não estão ligando, por fim a criança começa a pular no braço do sofá, e então os pais temendo uma queda, vão até ela e dizem: para com isto, você não está vendo que você vai cair e se machucar, não pode subir no sofá, nós já tínhamos conversado sobre isto, você não está cumprindo o combinado e pegam a criança e descem ela, passa um tempinho e então a criança está lá novamente, e começa tudo de novo.
Por fim, os pais muitas vezes tentam solucionar o problema dando o celular com algum vídeo ou jogo para criança (algumas vezes “funciona” temporariamente e outras não – teremos um post explicando sobre isso).
Para compreendermos esses casos e propor algumas soluções é necessário fazermos uma análise desses comportamentos. O que precisamos saber de início é que, todo comportamento possui uma consequência que o mantém (acesse o post – Por que me comporto assim? – para entender melhor esse conceito.
Agora vamos analisar os exemplos 1 e 2.
A criança subiu no braço do sofá (comportamento) e com isso teve acesso a atenção dos pais (consequência). Então logo, a atenção dos pais é a função do comportamento da criança, ele emite o comportamento e tem acesso a atenção, com isso o comportamento é reforçado, ou seja, ele irá continuar ocorrendo no futuro.
No exemplo 2 podemos observar o mesmo objetivo, o comportamento almejando a atenção dos pais. Porém, os pais não deram atenção no início, então o filho fez outras coisas para ter a atenção, os pais continuaram a não fornecer a consequência, por fim, a criança fez um comportamento que os pais não puderam evitar de da a atenção, pois a criança estava em risco de se machucar.
Podemos concluir que os comportamentos das duas crianças tinham a função de receber atenção. E nos dois exemplos eles obtiveram êxito.
Observação: As partes em negrito nos dois exemplos é a atenção fornecida pelos pais.
E então, o que fazer, se der atenção o comportamento continua e se não ele fará alguma coisa que será impossível não dá a atenção.
Parece que estamos sem saídas, mas há solução, vamos observar alguns possíveis episódios que estão reforçando estes comportamentos. O que em muitos casso ocorre é que:
A criança só recebe atenção quando está engajada em comportamentos semelhantes ao de subir no sofá.
Os pais trabalham o dia todo, chegam em casa cansados e querem descansar, enquanto os filhos cheios de energia, com muitas saudades dos pais, querem brincar com eles (esse brincar com os pais para ter atenção dos pais), então, os pais dizem que estão cansados e falam para a criança brincar sozinho. Então os filhos não recebem a atenção desta forma e tentam de outra forma, como fazer algo que desagrada aos pais, assim os pais dão atenção, mesmo que seja dando uma bronca.
Os pais ficam exaustos com esses comportamentos que quando a criança os chama para brincar de forma adequada, eles dizem não.
Importante mencionar neste momento que não estou dizendo de forma alguma que a culpa é dos pais, como não digo que a culpa é dos filhos. Apenas, o que está ocorrendo é que a atenção está sendo entregue a um comportamento que os pais não gostariam que a criança estivesse emitindo. Ainda para ficar mais claro esse posicionamento vamos pensar no seguinte, a criança quer atenção dos pais, atenção é algo bom, logo, os filhos não têm culpa. E os pais dão atenção para os filhos, da atenção aos filhos é algo bom, logo os pais não possuem culpa também.
Dito isso vamos a algumas ações para melhorar essa interação.
De atenção aos filhos quando eles estão engajados em comportamentos adequados.
De tempo em tempo de atenção aos filhos mesmo sem eles pedirem, desde que no momento eles não estejam emitindo os comportamentos inadequados.
Quando a criança começar a se engajar em comportamentos inadequados, como subir em cima do braço do sofá, evite da atenção, até contato de olhos pode ser atenção, só retire-o do local e coloque-o em um lugar adequado (como sentado no sofá). Ele engajando em um comportamento adequado, de atenção a ele, brinque, converse.
Agora a dica mais importante, ele está emitindo muitos comportamentos inadequados, de forma que você já não consegue colocar as estratégias em ação, então, procure um profissional. Será feito um trabalho individualizado, através de avaliações comportamentais, com base nas evidências científicas. A terapia Analítico comportamental possui excelentes procedimentos para te ajudar.
Sugestões de leituras!
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Entre os próximos posts falarei sobre as funções do comportamento de forma mais completa. Confira sempre a página, compartilhem com mais pessoas e se inscrevam no Instagram @vcbevidencias, lá possui conteúdos exclusivos.
Muitas crianças teimosas e impulsivas que tenta conquistar o espaço para sua própria vontade . A desobediência,como qualquer outro valor , também se aprende na educação, aprender a ter limites desde as mais novas idades .
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